terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Milestone: 4 anos


No dia 21 de Janeiro de 2010 eu e a Claudia deixamos nosso apartamento número 13C no Cambuci com ainda algumas coisas dentro, fechamos a porta, demos as chaves para o meu sogro e partimos rumo ao Aeroporto Internacional de São Paulo com as malas e mochilas cheias, e muitos sonhos e expectativas também. Medos, incertezas, saudades, e um frio canadense na barriga também nos acompanharam.
Saímos de São Paulo, paramos no Rio de Janeiro (e tivemos alguns probleminhas com informações desencontradas sobre área de embarque e tal) e de lá fomos para Nova Iorque. Chegamos em NY no dia 22 de Janeiro pela manhã e esperamos pelo nosso vôo “local” para Toronto. Lembro-me muito bem da nossa chegada em Toronto. Fomos muito bem recebidos e fiquei com um sentimento bom do país que escolhemos para morar.

Após preenchermos alguns papéis e recebermos algumas informações (“kit imigrante”) fomos esperar o Márcio que ficou de nos pegar no aeroporto. E lá fomos para a The Esplanade St no apartamento do Otávio no qual alugamos um quarto por um mês.

Bom, essa história eu já devo ter contado em outros posts. Hoje é dia de comemorar os 4 anos de Canadá.
Como eu sempre digo, cada um tem a sua própria experiência e percepção sobre o lugar em que vivem. Eu vou tentar contar nesse post sob minha perspectiva como se alguém viesse para mim e perguntasse como é a vida de Imigrante após 4 anos, ou quais dicas eu daria após 4 anos para quem quiser vir para cá.

O começo é complicado e estranho. Não me arrependo do fato de ter escolhido vir no Inverno, porém essa época do ano pode tornar as coisas um pouco mais complicadas. Por exemplo, os dias são mais curtos e pode causar uma depressão maior, algumas coisas são mais difíceis de se resolver sem ter um carro e não conhecer bem os transportes públicos, procurar imóveis, decidir a questão de escola se vier estudar, lidar com saúde, etc.

Quebrar o sentimento de “turista” e começar uma rotina foram fator chave para mim. Tomei a decisão certa em começar a fazer LINC (inglês) assim que cheguei. Adorei e recomendo!

Morando em Downtown ajudou na questão logística e de transportes, pois conseguíamos fazer várias coisas a pé. E uma das primeiras coisas que fizemos foi contratar um plano de celular. Dessa forma, eu conseguia falar com a Claudia quando quisesse e também ajudou na busca de empregos.

Os chamados “cursos para arrumar emprego” não são tão efetivos, porém são válidos para ter alguma noção de como é o esquema de entrevista e preparar o currículo. Há muitas opções e com o tempo você vai aprendendo qual é melhor. Hoje não sei qual indicar.

Tomamos a decisão certa em abrir a conta do HSBC aqui em Toronto ainda quando estávamos no Brasil, pois chegamos aqui já com cartão de crédito, cheque e cartão de débito. Incrível como essas coisas fazem diferença para comprar algo financiado (carro por exemplo).

Os postos de serviços públicos acabam virando certa rotina assim que chegamos, pois precisamos fazer os documentos (SIN card, PR, cartão de saúde depois de um tempo, exame para carteira de motorista).

Meu certificado do PMI e um pouco o de Six Sigma abriram mais portas profissionais do que meus diplomas de faculdade. Pelo PMI eu consegui meu primeiro emprego e também um grande apoio da minha mentora no programa de Mentoring.

Naturalmente você começa a conhecer pessoas (brasileiros) que te apresentam a outras pessoas e você começa a ver diferentes estilos e afinidades. Há aqueles que moram em subúrbios (geralmente com filhos) e aqueles jovem casais que moram em Downtown. Os motivos que trazem as pessoas para cá sempre são parecidos – busca de algum lugar melhor para morar ou por causa de emprego. Muito poucos são os que têm parentes por perto.

Para os “novos” imigrantes a língua não parecia ser o maior dos obstáculos e eu me sentia o único que tinha esse problema. Hoje eu sei que não é verdade. Ter desenvoltura com o inglês é fundamental para “se virar” bem e nem todo mundo já chega com isso.

Hoje não consigo generalizar o tratamento dado pelo povo local. Há canadenses e canadenses. Há diferentes culturas que preservam parte de suas origens sim. Nitidamente você encontra grupos de chineses, indianos, filipinos, etc.

Hoje eu diria que o sistema de saúde é simplesmente diferente. Pior em alguns aspectos e melhor em outros. E tudo isso também depende do que se espera. Já tivemos experiências diversas com hospitais e saúde em geral. Médicos de família, walk-in clinic, pronto-socorro para nós e para a Amanda, Maternidade, médicos especialistas. O que eu posso dizer é que nunca houve negligência. Por vezes não ficamos satisfeitos com o atendimento ou atenção ou demora, mas o que resolve é rever as expectativas e entender as diferenças.

Segurança ainda é um fator importante e isso não tenho dúvidas de que sempre me senti mais seguro aqui. As notícias do Brasil não me abalam ao ponto de criar uma imagem negativa do país. Felizmente até agora viajei todo ano para o Brasil e pude sentir a realidade estando lá. Resumidamente fica cada vez mais complicado comparar o Canadá de hoje (dia-a-dia) com o Brasil de 4 anos atrás (minha realidade e verdadeira percepção do dia-a-dia no Brasil) – as coisas mudam, certo?

A distância do Canadá até o Brasil vai além da esfera geográfica. Filosoficamente falando, a percepção de distância varia bastante. Por exemplo, quando lemos alguma notícia boa ou ruim do Brasil eu me sinto mais próximo. No dia-a-dia, parece que estou me afastando... pois não tenho mais o convívio e não falo das mesmas coisas que acontecem na rotina. Chega uma hora em que a gente para de ficar comparando.

Os 4 anos daqui são os mesmos que os do Brasil. A diferença é o que você faz nesse tempo. Aqui também temos rotina e também temos problemas. Normal. Ultimamente meu tempo aqui me faz olhar para trás e não saber responder se fiz ou não uma boa escolha, e ao mesmo tempo me faz pensar que muita coisa boa aconteceu. Imaginando como teriam sido os 4 anos se eu estivesse no Brasil, acho que pouca coisa mudaria e por causa desse pensamento eu diria que a vida aqui tem sido mais simples.

Não sei explicar o que “mais simples” significa. Por exemplo, para mim significa poder trabalhar menos, gastar melhor, ter opções de lazer sem gastar, preocupar-se menos com política ou comprar mais e mais, usufruir de uma infra-estrutura planejada para o calor e para o frio, ver várias coisas funcionando ao redor, preocupar-se menos com o que os outros vão pensar ou falar, etc.

Não tive filho no Brasil para conseguir comparar com a experiência de ter filho aqui no Canadá. Observo meus sobrinhos e também não sou capaz de concluir ou construir um quadro comparativo. A ideia que eu tenho é de que consigo ter uma rotina, ter um tempo maior com a Amanda e mesmo assim ela ir para cama cedo. Muito se deve ao fato de eu conseguir sair cedo do serviço e trabalhar perto de casa. Imagino que se eu estivesse no Brasil a rotina não seria tão diferente – algo como, sair do trabalho, pegar trânsito, buscar a Amanda, jantar, passar um tempo juntos e colocar para dormir – porém, num nível de cansaço maior e indo dormir mais tarde.

Imagino que a criação da Amanda será diferente não somente pelo fato da língua, mas por outras circunstâncias. Por exemplo, acredito que alguns fatores vão “moldar” a personalidade da Amanda tais como – ausência de parentes por perto, avós, outros ciclos de amizade e cultura, falta de “brasilidade”, segurança, sistema de educação, diferentes opções de lazer, clima, tecnologias, etc.

Nunca senti preconceito nesses 4 anos. Sinto que cobrei muito de mim mesmo em questão de comunicação. De certa forma muita gente entende a dificuldade em trabalhar e viver em outra cultura e língua. Claro que tive vários problemas no começo por conta dessa dificuldade, pois para as empresas isso pode refletir em queda de qualidade profissional (comunicar-se bem com outras equipes).

No começo eu tentava resolver dificuldades do dia-a-dia sorrindo e muitas vezes assumia a culpa por mal entendimentos ou falhas de comunicação. A gente fica com a ideia de que todo mundo diz “Sorry” e que é gentil. Depois aprendemos que nem tudo é assim “nice” e as pessoas são todas bem educadas. Como eu disse, há canadenses e canadenses. Há aqueles que puxam o tapete, há aqueles que não são gentis, há aqueles que não dizem “sorry” por qualquer coisa. Não generalizo.

Acho que depois de um tempo a gente começa a aprender alguns “segredos” ou como as coisas funcionam ou viver a cultura local. Já temos uma ideia de como é buscar emprego, lugares para morar, educação, saúde, transporte, custo de vida, política, clima, esportes, problemas socio-políticos, dinheiro, amizades, etc.

Descobrimos lugares diferentes para ir, comer, comprar. O que é de qualidade e o que não é necessariamente. Marcas. Comidas. Lojas. Conseguimos fazer planos para o futuro. Conseguimos entender e visualizar melhor como as coisas são conversando com outras pessoas ou “nativos”.

Algumas perguntas ainda ficam sem respostas por mais que já tenha pensado várias vezes. Por exemplo, não sei o que responder se alguém perguntar se algum dia eu vou voltar para o Brasil. Não sei responder se alguém perguntar o que eu vou fazer se alguém próximo falecer. Não sei responder o que eu acho que vai acontecer se eu falecer aqui. Não sei responder se me arrependo de alguma coisa e se teria feito diferente. Não sei responder se indico o Canadá para qualquer pessoa que queira vir.

Claro que eu queria ter família e amigos por perto, mas tenho a certeza de que imigrar para cá não é para todo mundo.

Quando completamos 3 anos aplicamos para o processo de cidadania (algo que sonhávamos desde o começo) e talvez nesse 4º ano a gente se torne canadense (além de brasileiro). O que isso vai mudar na prática? Na parte burocrática mudam algumas coisas (por exemplo, possibilita termos o passaporte canadense), mas o sentimento vai ficar confuso. Ainda tenho raízes profundas brasileiras.

É isso aí... o tempo não para.

[]s

Um comentário:

Bia disse...

Oi Robinson!

Muito legal essa reflexão! :)

Saudade de vcs!

bjs