quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Milestone: 5 anos no Canadá


Convido você a parar por alguns minutos e pensar na quantidade de coisas que fazemos ou deixamos de fazer em 5 anos. Esse é o exercício que fiz para escrever esse post e vou tentar resumir o máximo possível.

Por exemplo, em 5 anos eu me formei na faculdade e fiz muitas amizades e aprendi uma coisa ou outra (hehehe). Em 5 anos dá para subir 1 ou 2 posições na carreira (não a minha). Em 5 anos uma criança já começa a se aventurar nos livros.

Desnecessário dizer o que aconteceu há 5 anos em relação a mudança para o Canadá, pois provavelmente se encontra em diversos posts. Talvez seja mais relevante tentar descrever o que eu observo quando olho para tras e tento ver meus passos no horizonte de 5 anos.

Ano I:ADAPTAÇÃO

Era o meio do primeiro Inverno, alugamos um quarto, colocamos todas as nossas malas e tudo parecia “mágico”. Sem carro, sem emprego, sem muitos pertences pessoais. Tudo estava indo de acordo com o plano (ótimo para mim).
Acertei em querer quebrar o sentimento de “turista” e criar uma rotina para mim. Isso me ajudou muito na adaptação e as aulas de inglês foram muito úteis também.
Muita documentação para acertar.
Busca de emprego praticamente do zero. Muito difícil por conta da língua e menos por conta da bagagem profissional que eu trazia e que me dava confiança em querer continuar na mesma área de atuação.
Primeiro emprego me deu uma impressão distorcida do ambiente de trabalho que eu imaginava, mas acabou sendo um aprendizado.
Mudança para um apartamento (aluguel) e a boa localização ajudou muito na adaptação também.
Conhecemos várias pessoas e muitas delas com histórias parecidas.
Primeiras visitas para podermos mostrar que estamos estabelecidos.
Algumas pessoas ajudam e outras não. E isso inclui brasileiros ou não. Isso é a vida. Bobagem pensar que brasileiro sempre ajuda brasileiro numa situação dessa.
Longos meses tentando conseguir um emprego, fazendo várias entrevistas e estudando mais inglês.
Visita ao Brasil foi boa para sabermos que daqui em diante sempre será corrido. Acabei fazendo muitas comparações desnecessárias.
Lugares, contas para pagar, comidas, distância fazem parte da adaptação.

Ano II: ESTABELECIMENTO PROFISSIONAL

Emprego novo na minha área de conforto. Ótima oportunidade para desenvolver e botar pra quebrar.
Vários planos para estudar, aprender, crescer.
Amizades vão mudando aos poucos.
Crescimento pessoal. Aprendi que sou responsável pelas decisões que tomo.
Mudança novamente. Agora para a casa própria.
Conhecemos a famosa “mortgage” (financiamento imobiliário) e com ela novas contas para pagar.
É bom viajar e é bom gastar, mas já não tem muita coisa com que gastar. Sinal de que a mentalidade começa a mudar.
Já temos alguns lugares favoritos para ir, restaurantes, tipo de comida.

Ano III: GRAVIDEZ

Todo foco na gravidez. Mês a mês.
Muita coisa para aprender e aos poucos meu lado “pai” vai sendo moldado. De repente ele sempre esteve comigo.
Coincidentemente havia mais 2 grávidas na família e a gente acompanha a evolução a distância.
Primeiro vem o João Victor, depois a Mariana e então chega o momento da Amanda. Parto normal.
Toda a prioridade muda. Carreira, novos cursos, video game, Blog, Krav Maga, viagens, etc. ficam em segundo, terceiro planos.
Sinto financeiramente abalado com as contas que tem pela frente. Day Care em Downtown é concorrido e caro. Mortgage, contas da casa. Preciso de um aumento.
A empresa é comprada por outra empresa e sinto o momento de instabilidade. Hora de procurar outro lugar. Tenho uma filha para criar.
A oportunidade não demora muito a aparecer. Vou bem na entrevista e decido mudar de indústria. Mesma área, mais ou menos as mesmas responsabilidades. Salário melhor apesar de não ser Full Time. Encaro.
Havia chances de ser efetivado em 2 anos e daí “mamar” no governo.

Ano IV: REORGANIZANDO A VIDA

Engano meu.
Empresa pública não é para mim. Projetos sem prazo e sem preocupação com gastos me incomodam.
Tentei. Engoli muitos sapos.
Descobri que o estilo de liderança é muito significativo para minha produtividade.
Em casa tinha a alegria de re-encontrar minha filha e ao mesmo tempo toda a responsabilidade por trás.
Sentia que algo não ia bem comigo, com minha cabeça. Meu ânimo já tinha sumido.
Tinha saudades da família e amigos. Queria poder conversar.
Comecei a fazer terapia.
Foi ótimo. Entendi um pouco mais de mim mesmo.
Estava caminhando para a “perda do eu”. Precisava parar um pouco e de certa forma ser mais egoísta.
Precisava mesmo era mudar de emprego. Produzir.
Demorou, mas apareceu a oportunidade no final do ano. Bem quando meu contrato de 1 ano tinha sido renovado.
O final do ano foi um dos mais complicados. Amanda doente com um vírus RSV, internada por 10 dias. Muito muito frio.
Chorei quando precisou colocar soro na veia. Alguns dias fiquei como um zumbi, acordando de madrugada para acompanhar a enfermeira. Media o nível de oxigênio dia e noite.
Mudei meu conceito sobre o sistema de saúde por aqui. Você pode ter de esperar atendimento por horas e até mesmo ficar doente enquanto espera, mas nunca, nunca há negligência por falta de informação ou atendimento correto. Claro, algumas coisas ainda são questionáveis.

Ano V: CHECKPOINT

Novo emprego finalmente. De volta ao setor bancário.
Mais trabalho pela frente, salário menor, mais feliz.
O estilo de liderança faz muita diferença.
Altos e baixos na família.
Amanda melhor e crescendo rápido.
Ainda tudo gira em torno dela. Agora é escola. Ela se destaca. As professoras acham que ela é muito inteligente. Fico orgulhoso.
Ainda faço poucas coisas para mim. Voltei a pensar no meu projeto pessoal. Isso me deu um impulso para querer aprender mais e fazer acontecer.
Hora de começar a pensar no futuro da Amanda. Mudar de casa por conta de melhores escolas? Talvez.
Sinto-me em casa no Canadá.
Muito mais confortável com a língua, costumes, hábitos. Sei que mudei o modo de agir, pensar, ser. Acho que a vida é mais simples e com mais qualidade. Gasto melhor e me preocupo com coisas diferentes.
O clima é uma pequena preocupação.
Sinto que há mais opções de lazer acessíveis a todos. Mesmo no frio.
Se no primeiro ano começamos a sonhar em inglês, hoje eu digo que consigo até dar risada em inglês.
Não acredito em generalizações. Não há esteriótipos de brasileiros e de canadenses.
Algumas pessoas me pedem dicas. Não consigo dar muitas não. Há diferentes caminhos em um único lugar. Cada um acaba traçando o seu.


Daqui pra frente eu não sei. Minha zona de conforto também é aqui.