sábado, 25 de janeiro de 2014

Parabéns São Paulo


Sou PAULISTANO e filho da cidade de concreto. Nasci no Hospital e Maternidade 9 de Julho. Cresci no asfalto quente dos dias de verão, em meio ao trânsito, poluição sonora, entre prédios cobrindo o céu muitas vezes acinzentado e algumas vezes azulado, em meio a chuvas e alagamentos, comendo comida de rua e passeando em shopping centers.

Amo a cidade de São Paulo e sempre será minha cidade natal.

Encho o peito quando alguém aqui me pergunta sobre São Paulo e falo com muito orgulho que nasci, cresci, estudei, trabalhei em São Paulo e que apesar de ter vivido por mais de 30 anos na cidade eu não conheço a cidade toda. Tento montar uma imagem de cidade grande, um pouco de caos, helicópteros cortando o céu, motos entrelaçando os carros, buzina, pessoas se esbarrando, correria, percepção de cidade que não para nem por um segundo, mas para por um bom cafezinho.

Morei no bairro da Saúde e depois no Cambuci. Trabalhei em várias empresas e diferentes lugares (muitas vezes visitando clientes) o que me deu certa "fluência" em transitar por bairros que até então não tinham sido tão explorados.

Se eu tivesse marcado todos os lugares por onde passei, comi, me diverti, fui assaltado, etc com um "O ROBINSON ESTEVE AQUI" talvez eu escutaria algumas pessoas falando "pô Robinson, você deveria ir em tal lugar, você não conhece o melhor de São Paulo" e isso é ótimo!

Memórias, memórias e memórias. Enquanto a cidade envelhecia e se renovava eu também seguia o meu caminho. Crescemos juntos. São Paulo determinou meu ritmo e eu quis correr junto.

Parabéns São Paulo! A gente se vê!

[]s

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Milestone: 4 anos


No dia 21 de Janeiro de 2010 eu e a Claudia deixamos nosso apartamento número 13C no Cambuci com ainda algumas coisas dentro, fechamos a porta, demos as chaves para o meu sogro e partimos rumo ao Aeroporto Internacional de São Paulo com as malas e mochilas cheias, e muitos sonhos e expectativas também. Medos, incertezas, saudades, e um frio canadense na barriga também nos acompanharam.
Saímos de São Paulo, paramos no Rio de Janeiro (e tivemos alguns probleminhas com informações desencontradas sobre área de embarque e tal) e de lá fomos para Nova Iorque. Chegamos em NY no dia 22 de Janeiro pela manhã e esperamos pelo nosso vôo “local” para Toronto. Lembro-me muito bem da nossa chegada em Toronto. Fomos muito bem recebidos e fiquei com um sentimento bom do país que escolhemos para morar.

Após preenchermos alguns papéis e recebermos algumas informações (“kit imigrante”) fomos esperar o Márcio que ficou de nos pegar no aeroporto. E lá fomos para a The Esplanade St no apartamento do Otávio no qual alugamos um quarto por um mês.

Bom, essa história eu já devo ter contado em outros posts. Hoje é dia de comemorar os 4 anos de Canadá.
Como eu sempre digo, cada um tem a sua própria experiência e percepção sobre o lugar em que vivem. Eu vou tentar contar nesse post sob minha perspectiva como se alguém viesse para mim e perguntasse como é a vida de Imigrante após 4 anos, ou quais dicas eu daria após 4 anos para quem quiser vir para cá.

O começo é complicado e estranho. Não me arrependo do fato de ter escolhido vir no Inverno, porém essa época do ano pode tornar as coisas um pouco mais complicadas. Por exemplo, os dias são mais curtos e pode causar uma depressão maior, algumas coisas são mais difíceis de se resolver sem ter um carro e não conhecer bem os transportes públicos, procurar imóveis, decidir a questão de escola se vier estudar, lidar com saúde, etc.

Quebrar o sentimento de “turista” e começar uma rotina foram fator chave para mim. Tomei a decisão certa em começar a fazer LINC (inglês) assim que cheguei. Adorei e recomendo!

Morando em Downtown ajudou na questão logística e de transportes, pois conseguíamos fazer várias coisas a pé. E uma das primeiras coisas que fizemos foi contratar um plano de celular. Dessa forma, eu conseguia falar com a Claudia quando quisesse e também ajudou na busca de empregos.

Os chamados “cursos para arrumar emprego” não são tão efetivos, porém são válidos para ter alguma noção de como é o esquema de entrevista e preparar o currículo. Há muitas opções e com o tempo você vai aprendendo qual é melhor. Hoje não sei qual indicar.

Tomamos a decisão certa em abrir a conta do HSBC aqui em Toronto ainda quando estávamos no Brasil, pois chegamos aqui já com cartão de crédito, cheque e cartão de débito. Incrível como essas coisas fazem diferença para comprar algo financiado (carro por exemplo).

Os postos de serviços públicos acabam virando certa rotina assim que chegamos, pois precisamos fazer os documentos (SIN card, PR, cartão de saúde depois de um tempo, exame para carteira de motorista).

Meu certificado do PMI e um pouco o de Six Sigma abriram mais portas profissionais do que meus diplomas de faculdade. Pelo PMI eu consegui meu primeiro emprego e também um grande apoio da minha mentora no programa de Mentoring.

Naturalmente você começa a conhecer pessoas (brasileiros) que te apresentam a outras pessoas e você começa a ver diferentes estilos e afinidades. Há aqueles que moram em subúrbios (geralmente com filhos) e aqueles jovem casais que moram em Downtown. Os motivos que trazem as pessoas para cá sempre são parecidos – busca de algum lugar melhor para morar ou por causa de emprego. Muito poucos são os que têm parentes por perto.

Para os “novos” imigrantes a língua não parecia ser o maior dos obstáculos e eu me sentia o único que tinha esse problema. Hoje eu sei que não é verdade. Ter desenvoltura com o inglês é fundamental para “se virar” bem e nem todo mundo já chega com isso.

Hoje não consigo generalizar o tratamento dado pelo povo local. Há canadenses e canadenses. Há diferentes culturas que preservam parte de suas origens sim. Nitidamente você encontra grupos de chineses, indianos, filipinos, etc.

Hoje eu diria que o sistema de saúde é simplesmente diferente. Pior em alguns aspectos e melhor em outros. E tudo isso também depende do que se espera. Já tivemos experiências diversas com hospitais e saúde em geral. Médicos de família, walk-in clinic, pronto-socorro para nós e para a Amanda, Maternidade, médicos especialistas. O que eu posso dizer é que nunca houve negligência. Por vezes não ficamos satisfeitos com o atendimento ou atenção ou demora, mas o que resolve é rever as expectativas e entender as diferenças.

Segurança ainda é um fator importante e isso não tenho dúvidas de que sempre me senti mais seguro aqui. As notícias do Brasil não me abalam ao ponto de criar uma imagem negativa do país. Felizmente até agora viajei todo ano para o Brasil e pude sentir a realidade estando lá. Resumidamente fica cada vez mais complicado comparar o Canadá de hoje (dia-a-dia) com o Brasil de 4 anos atrás (minha realidade e verdadeira percepção do dia-a-dia no Brasil) – as coisas mudam, certo?

A distância do Canadá até o Brasil vai além da esfera geográfica. Filosoficamente falando, a percepção de distância varia bastante. Por exemplo, quando lemos alguma notícia boa ou ruim do Brasil eu me sinto mais próximo. No dia-a-dia, parece que estou me afastando... pois não tenho mais o convívio e não falo das mesmas coisas que acontecem na rotina. Chega uma hora em que a gente para de ficar comparando.

Os 4 anos daqui são os mesmos que os do Brasil. A diferença é o que você faz nesse tempo. Aqui também temos rotina e também temos problemas. Normal. Ultimamente meu tempo aqui me faz olhar para trás e não saber responder se fiz ou não uma boa escolha, e ao mesmo tempo me faz pensar que muita coisa boa aconteceu. Imaginando como teriam sido os 4 anos se eu estivesse no Brasil, acho que pouca coisa mudaria e por causa desse pensamento eu diria que a vida aqui tem sido mais simples.

Não sei explicar o que “mais simples” significa. Por exemplo, para mim significa poder trabalhar menos, gastar melhor, ter opções de lazer sem gastar, preocupar-se menos com política ou comprar mais e mais, usufruir de uma infra-estrutura planejada para o calor e para o frio, ver várias coisas funcionando ao redor, preocupar-se menos com o que os outros vão pensar ou falar, etc.

Não tive filho no Brasil para conseguir comparar com a experiência de ter filho aqui no Canadá. Observo meus sobrinhos e também não sou capaz de concluir ou construir um quadro comparativo. A ideia que eu tenho é de que consigo ter uma rotina, ter um tempo maior com a Amanda e mesmo assim ela ir para cama cedo. Muito se deve ao fato de eu conseguir sair cedo do serviço e trabalhar perto de casa. Imagino que se eu estivesse no Brasil a rotina não seria tão diferente – algo como, sair do trabalho, pegar trânsito, buscar a Amanda, jantar, passar um tempo juntos e colocar para dormir – porém, num nível de cansaço maior e indo dormir mais tarde.

Imagino que a criação da Amanda será diferente não somente pelo fato da língua, mas por outras circunstâncias. Por exemplo, acredito que alguns fatores vão “moldar” a personalidade da Amanda tais como – ausência de parentes por perto, avós, outros ciclos de amizade e cultura, falta de “brasilidade”, segurança, sistema de educação, diferentes opções de lazer, clima, tecnologias, etc.

Nunca senti preconceito nesses 4 anos. Sinto que cobrei muito de mim mesmo em questão de comunicação. De certa forma muita gente entende a dificuldade em trabalhar e viver em outra cultura e língua. Claro que tive vários problemas no começo por conta dessa dificuldade, pois para as empresas isso pode refletir em queda de qualidade profissional (comunicar-se bem com outras equipes).

No começo eu tentava resolver dificuldades do dia-a-dia sorrindo e muitas vezes assumia a culpa por mal entendimentos ou falhas de comunicação. A gente fica com a ideia de que todo mundo diz “Sorry” e que é gentil. Depois aprendemos que nem tudo é assim “nice” e as pessoas são todas bem educadas. Como eu disse, há canadenses e canadenses. Há aqueles que puxam o tapete, há aqueles que não são gentis, há aqueles que não dizem “sorry” por qualquer coisa. Não generalizo.

Acho que depois de um tempo a gente começa a aprender alguns “segredos” ou como as coisas funcionam ou viver a cultura local. Já temos uma ideia de como é buscar emprego, lugares para morar, educação, saúde, transporte, custo de vida, política, clima, esportes, problemas socio-políticos, dinheiro, amizades, etc.

Descobrimos lugares diferentes para ir, comer, comprar. O que é de qualidade e o que não é necessariamente. Marcas. Comidas. Lojas. Conseguimos fazer planos para o futuro. Conseguimos entender e visualizar melhor como as coisas são conversando com outras pessoas ou “nativos”.

Algumas perguntas ainda ficam sem respostas por mais que já tenha pensado várias vezes. Por exemplo, não sei o que responder se alguém perguntar se algum dia eu vou voltar para o Brasil. Não sei responder se alguém perguntar o que eu vou fazer se alguém próximo falecer. Não sei responder o que eu acho que vai acontecer se eu falecer aqui. Não sei responder se me arrependo de alguma coisa e se teria feito diferente. Não sei responder se indico o Canadá para qualquer pessoa que queira vir.

Claro que eu queria ter família e amigos por perto, mas tenho a certeza de que imigrar para cá não é para todo mundo.

Quando completamos 3 anos aplicamos para o processo de cidadania (algo que sonhávamos desde o começo) e talvez nesse 4º ano a gente se torne canadense (além de brasileiro). O que isso vai mudar na prática? Na parte burocrática mudam algumas coisas (por exemplo, possibilita termos o passaporte canadense), mas o sentimento vai ficar confuso. Ainda tenho raízes profundas brasileiras.

É isso aí... o tempo não para.

[]s

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Retrospectiva 2013


Fiz esse video na pressa... faltou uma música de fundo, escolher melhores fotos, editá-las e apagar as duplicadas.

Retrospectiva 2013

Putz, isso vai ser muito difícil para mim, pois minha memória já não está mais como antigamente. Vamos ver o que sai.

Esse ano comecei a trabalhar em uma empresa nova e já estou de saída. Foi uma grande mudança na minha vida profissional, pois, apesar de ter sido contratado para fazer mais ou menos o que eu já venho fazendo há anos, eu mudei de indústria (área financeira para área de energia), mudei de permanente para temporário, mudei de setor privado para público, mudei o foco de Gerenciamento de Processos para Gerenciamento de Mudanças e Treinamento. Sim, trabalhei bem menos.

Tivemos algumas visitas. Minha mãe veio no começo do ano e conheceu a neve. Ela diz que gostou de ter vindo para refrescar a cuca e curtir a Amanda que na época tinha poucos meses de vida e pouco cabelo. Meu cunhado acabou passando na mesma época (minha irmã teve problemas com o visto e passaporte e não conseguiu vir). Meu outro cunhado, co-cunhada e filho vieram no verão e imagino que conseguiram curtir bastante. Fora eles, ainda encontramos o Sushi que preferiu se hospedar num albergue e um colega de colégio, o Shaolin, que veio a trabalho.

Fizemos alguns passeios (não conto como “viagem”) para Niagara e Kitchener (amiga da minha mãe) e viajamos para o Brasil (mega super corrido, mas conseguimos fazer várias coisas) basicamente para o casamento da minha irmã.

Apesar de me alimentar mal, não tive um ano tão sedentário. Caminhei quase todos os dias para o trabalho (e voltei andando também) que são um pouco mais de 3km o trajeto. Isso me rendeu uma tendinite no pé. Voltei a treinar Krav Magá e consegui alguns hematomas.

Comi muito menos KFC e asinhas de frango. Compramos uma actifry para fazer frituras mais saudáveis em casa. Cozinhamos muito para a Amanda. Comi Thai com mais frequência. Tomei muito mais café do Starbucks. Aprendi a gostar de chafé. Tomei chá também.

Voltei a jogar video game e li menos. Estudei menos. Porém, participei de mais webinars relacionados à minha área de trabalho.

Fui algumas vezes ao dentista para limpeza e poucas vezes ao médico. Fiquei 2 ou 3 vezes doente (gripe ou estômago) o que me fez faltar no serviço 1 ou 2 vezes. Confesso que faltei mais 1 ou 2 vezes por conta de entrevista.

Comprei mais roupa, pois precisava de camisas novas e tênis novo. Ainda preciso de mais gravatas para o serviço novo. Fizemos um upgrade nos nossos celulares e me arrependo de não ter pego um com mais memória.

Os gastos aumentaram com o Day Care e supermercado, porém acho que estamos gastando menos com supérfluos. Saímos algumas vezes para comer fora. Tivemos mais gastos com a Gia por conta de saúde ou stress. Pela primeira vez na vida fui ver um jogo de futebol no estádio (e jogo da seleção brasileira).
Tiramos várias fotos da Amanda e nem tanto de lugares. Conversei poucas vezes com minha família no Brasil pelo Skype e trocamos mais mensagems pelo Whatsapp.

Continuei deixando o cabelo crescer e confesso que estou ficando sem paciência, mas mantenho pela causa (vou doar para um instituto de câncer). Em breve vou cortá-lo. Perdi um pouquinho de peso, ganhei, perdi e no geral devo terminar o ano com o mesmo peso que comecei. Não usei relógio esse ano. Não ouvi muitas músicas novas. Não fui ao cinema, mas vi alguns filmes em casa... poucos.

Comecei um blog profissional e retomei um pouco o pessoal. Nada significante. Tive várias sessões de mentoring pelo Skype com a minha mentora que vive na Austrália. Acabou virando mais uma sessão de desabafo sobre os problemas no trabalho.

Comecei a fazer terapia, pois precisava entender meus “demônios”. Ok, não necessariamente demônios, mas coisas que estavam me deixando irriquieto. Acho que melhorei em alguns aspectos. Meus pais não estão muito bem. Passei alguns momentos de depressão.

Brinquei muito, mas muito mesmo com a Amanda. Sentamos e deitamos no chão juntos, carreguei ela, joguei para cima, fiz cócegas, troquei inúmeras fraldas, coloquei várias roupinhas lindas, levei e busquei várias vezes no Day Care, coloquei as meias na mão, cobri o rosto para dar susto, cantei e dancei, pulamos, coloquei sobre os ombros, joguei sobre as almofadas, dei bronquinhas, dei comida, lavei o rosto e mãos, acompanhei em todos os momentos no hospital, dei remédios, fiz inalação, abracei, apertei, mordi, dei banho, passei óleo e hidratante, escovei os dentes, passei fio dental, penteei os cabelos e mostrei no espelho, pulamos na cama e a fiz pular no berço, acompanhei quando engatinhou e deu os primeiros passos, li e reli livros de histórias, jogamos video game juntos, vimos fotos juntos, brincamos no parquinho, virei de ponta-cabeça, desenhamos juntos, montamos blocos, espalhamos tudo pela casa e guardamos tudo de volta, falamos as primeiras palavras juntos, ouvi muito “papai” e embalei para dormir, rimos muito!

Tive momentos de empolgação para lançar meu próprio negócio, mas ainda não deu certo e isso gerou grande frustração. Dei alguns conselhos e recebi outros. Doei muito pouco dinheiro. Não fiz trabalho voluntário.

“Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi”

Adeus 2013.

[]s