Eu tinha 33 anos quando cheguei aqui no Canadá há 10 anos. Ainda me lembro muito bem dos preparativos, da viagem (“só de ida”), da chegada ao aeroporto, do caminho até Downtown. Era uma 6ª feira e havia bastante neve acumulada nas ruas. Lembro que pensei “essa será a nova vida”. Acho que eu queria um recomeço, um novo desafio, estar fora da minha zona de conforto. Eu não queria e nunca quis provar nada a ninguém, talvez um pouco a mim mesmo.
Agora
quando olho para trás, eu não vejo com a mesma clareza o caminho que
percorri. Ok, talvez seja a idade e minha vista já não é mais a mesma.
Vamos confiar na memória
(que também não anda lá essas coisas) e listar algumas coisinhas nesse
post de celebração. Celebração de 1 década de Canadá!
Rotina
Quando
cheguei, eu quis criar uma nova rotina e quebrar o pensamento que eu
estava aqui a passeio. Fiz o teste de inglês e fui fazer a matrícula na
escola de inglês para imigrantes.
Comprei um celular Pós-pago no plano de 3 anos com a Rogers. Era um
iPhone 3GS.
Hoje
eu trabalho durante a semana (e algumas vezes no final de semana),
conto os dias para o final de semana, tento me divertir. Cuido da Amanda
quando ela está comigo. Tento
me exercitar também.
Lugar para morar
Nesses
10 anos morei em 4 lugares. Começando num quarto de apartamento, para
um apartamento de 1 dormitório, para um apartamento de 2 dormitórios e
então para um outro apartamento
de 2 dormitórios. Muito possivelmente não estarei morando nesse mesmo
lugar quando completar meus 20 anos de Canadá.
Comida
No
começo, eu queria experimentar de tudo... diferentes pratos, salgados e
doces. Sempre achei barato quando comparado a São Paulo. Antes eu
sentia falta da comida brasileira
e aos poucos fui me adaptando. Hoje não como tanta carne assim. Hoje eu
acho os doces brasileiros mais doces que os daqui.
Lembro
no primeiro ano eu tentei comer comida indiana perto do serviço e
passei mal por achar muito apimentado. Um dia resolvi mudar minha
tolerância a pimenta e aos poucos
fui aceitando pratos mais apimentados. Recentemente, eu voltei ao mesmo
restaurante indiano e achei um pouco apimentado ainda, porém só
transpirei.
Quem
me conhece sabe que curto cozinhar. No dia-a-dia cozinho coisas
simples. Muitas vezes faço biscoitos, alfajores ou até mesmo bolo e até
que o pessoal aqui curte.
Saúde
No
Brasil, eu ia várias vezes a médicos e especialistas.. geralmente por
causa da minha dor nas costas. As hérnias continuam aqui, mas agora
estou mais acomodado (ou irresponsável
talvez?) e gerencio a dor tomando remédios. Confesso que nessa primeira
década eu não fui muito saudável. Há 4 anos eu comecei a me exercitar
mais, comecei a correr e tive de parar por conta de uma lesão no pé.
Quero voltar.
Ultimamente
a única coisa que me mantém ativo é praticar Krav-Magá. Já faz alguns
anos e hoje sou um dos mais experientes da escola. Se tudo der certo
viro faixa preta ainda
esse ano.
Emprego
Vou
aproveitar e comentar sobre o aprendizado da língua inglesa aqui
também, pois comunicação é uma grande fração de estar empregado.
Logo
quando cheguei eu passei por vários apertos. Por exemplo, quando fui
comprar um café no Tim Hortons e não consegui entender que a atendente
falava... e na época eu só
respondi “yes, coffee”.
A
dificuldade com a língua me colocou em desvantagem na busca de emprego.
Eu sentia que tinha experiência, porém não conseguia passar da
entrevista. Aos poucos isso foi mudando
e hoje estou mais confortável.
Trabalhei
em vários lugares.. não foi fácil reconquistar a credibilidade, mostrar
resultados, competir com outras pessoas. Dei uns passos atrás na minha
carreira e aos poucos
fui buscando meu espaço. Hoje sou menos ambicioso.
Vida
Sim, ainda sinto mais segurança, mais qualidade de vida, mais simplicidade, menos stress e menos preconceitos bobos.
Várias
coisas aconteceram nesses 10 anos... a mais importante de todas é que
me tornei pai. Eu queria ser pai e tenho confiança de que me tornei um
bom pai. Amanda nasceu
e cresce a cada dia. Ela é meu amor verdadeiro e ela me ajuda a ter
amor próprio também.
Separei, divorciei, a vida segue. Tudo bem. Todos merecemos ser felizes.
Conheci
outras meninas, eu me decepcionei, eu talvez as tenha decepcionado.
Recentemente conheci outra menina e estamos juntos, aprendendo,
crescendo, evoluindo a relação.
Não sou mais jovem, porém mais maduro.
Descobri
o amor por um animal de estimação. É estranho, porém a relação de
dependência me faz pensar um pouco no meu papel aqui nesse planeta.
Tem gente que acha que tenho vários amigos, mas não tenho não.
Passei
por depressão, por introspecção, por re-estruturação. Gosto da minha
versão atual, mas quero melhorar. Sinto que melhorei quanto pessoa.
Vi entes queridos partirem e sei que ainda verei mais alguns nos próximos 10 anos. Nunca estamos preparados.
Cápsula do Tempo para o meu Eu futuro, para a Amanda no futuro
Old
man, esses 10 anos foram interessantes. Muito aprendizado, muita
adaptação, crescimento e oportunidade de ver seu país com outros olhos.
Queria saber se você está bem...
Filha,
obrigado. Você é uma pessoa boa, inteligente e super bonita. Outro dia
você pediu para escrever uma carta de agradecimento para o Papai Noel.
Você quer ser médica e
cuidar de mim. Desejo que seus sonhos se realizem.
Um comentário:
Parabéns atrasado.
Tb tenho uma filha Amanda e fizemos 11 anos de Canadá esse ano. Tb vim pra cá com 33 anos de idade.
Estava afastado dos blogs mas lembro de acompanhar o seu tempos atrás.
Boa sorte e quem sabe depois da pandemia nos encontramos por aí.
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