E lá se foram 6 anos! Já é mais do que o período que passei
na faculdade (que eu achava não acabar nunca).
Saímos de São Paulo rumo à Toronto com a passagem de ida
somente. Ainda lembro a correria para fecharmos as malas com peso distribuído
entre elas, imprimir os documentos para a imigração, fechar as caixas com as
coisas que deixamos para trás, conferir inúmeras vezes os passaportes e os
vôos, e repetir várias vezes para mim mesmo “se não der certo, eu volto”.
O primeiro ano definitivamente foi muito difícil e sou grato
por ter passado pelas dificuldades. Elas ajudaram na adaptação e me fizeram
mais forte. Os anos subsequentes também não foram fáceis, porém aos poucos as
peças foram se encaixando.
Hoje sou pai, brasileiro com muito orgulho e canadense. Olho
para os obstáculos do passado com certo alívio e orgulho por tê-los superado. A
grande barreira do idioma, a adaptação ao clima, a distância dos amigos e da
família, a busca do emprego, a casa própria, etc. agora fazem parte da história
e aprendizado.
Grandes decisões sempre carregam consequências.
Não abro mão das minhas raízes, da minha memória, da minha
brasilidade. Falo com muito orgulho que sou brasileiro, falo com muito orgulho
do meu país. Recentemente me tornei canadense e aos poucos também vou
alimentando o orgulho de ser canadense. Fico feliz em poder ser os dois.
Tenho grande responsabilidade em transmitir para a minha
filha Amanda os valores que me foram ensinados. Valores transcendem quaisquer
barreiras geográficas.
Nesses 6 anos muita coisa mudou. Eu mudei. Acho que a
desaceleração da rotina do dia-a-dia permitiu que eu fizesse um
auto-conhecimento. Sinto que aos poucos fui me desapegando ao consumismo (claro
que ainda compro coisas, mas em menor escala), dando mais valor ao tempo
pessoal do que na carreira, valorizado minha qualidade de vida, e conhecendo
meu lado emocional.
Hoje qualidade de vida significa segurança, comodidade,
tempo livre, viver mais simples.
Nos últimos 3 anos a mudança foi ainda maior com a chegada
da Amanda. Aprendi a ser pai. Pessoalmente acho que sou um bom pai e sinto que
é o melhor de mim. Não sou perfeito e sei que erro como pai também. Enquanto os
acertos são maiores que os erros, ou enquanto os erros se transformam em
aprendizado, considero um sinal positivo.
Nos últimos 2 anos tive de aprender a conviver ou superar a
depressão. Sim, ela veio e foram algumas batalhas. É ilógico.
A vida virou rotina. Trabalho durante a semana, tenho ótimas
perspectivas na carreira, aguardo o final de semana para aproveitar o tempo com
a Amanda ou passear ou fazer as tarefas de casa ou compras, às vezes preciso
resolver questões de banco ou operadora de TV/Internet, às vezes conto piada em
inglês mesmo, às vezes fico sem entender uma piada, às vezes preciso reclamar,
procuro fazer exercícios, procuro controlar a alimentação e peso, às vezes
viajo, às vezes tiro fotos, às vezes fico doente e assim por diante. Seria
diferente no Brasil?
Se alguém perguntar quando eu volto para o Brasil, ainda não
saberei responder.