Convido
você a parar por alguns minutos e pensar na quantidade de coisas que fazemos ou
deixamos de fazer em 5 anos. Esse é o exercício que fiz para escrever esse post
e vou tentar resumir o máximo possível.
Por
exemplo, em 5 anos eu me formei na faculdade e fiz muitas amizades e aprendi
uma coisa ou outra (hehehe). Em 5 anos dá para subir 1 ou 2 posições na
carreira (não a minha). Em 5 anos uma criança já começa a se aventurar nos
livros.
Desnecessário
dizer o que aconteceu há 5 anos em relação a mudança para o Canadá, pois
provavelmente se encontra em diversos posts. Talvez seja mais relevante tentar
descrever o que eu observo quando olho para tras e tento ver meus passos no
horizonte de 5 anos.
Ano
I:ADAPTAÇÃO
Era
o meio do primeiro Inverno, alugamos um quarto, colocamos todas as nossas malas
e tudo parecia “mágico”. Sem carro, sem emprego, sem muitos pertences pessoais.
Tudo estava indo de acordo com o plano (ótimo para mim).
Acertei
em querer quebrar o sentimento de “turista” e criar uma rotina para mim. Isso
me ajudou muito na adaptação e as aulas de inglês foram muito úteis também.
Muita
documentação para acertar.
Busca
de emprego praticamente do zero. Muito difícil por conta da língua e menos por
conta da bagagem profissional que eu trazia e que me dava confiança em querer
continuar na mesma área de atuação.
Primeiro
emprego me deu uma impressão distorcida do ambiente de trabalho que eu
imaginava, mas acabou sendo um aprendizado.
Mudança
para um apartamento (aluguel) e a boa localização ajudou muito na adaptação
também.
Conhecemos
várias pessoas e muitas delas com histórias parecidas.
Primeiras
visitas para podermos mostrar que estamos estabelecidos.
Algumas
pessoas ajudam e outras não. E isso inclui brasileiros ou não. Isso é a vida.
Bobagem pensar que brasileiro sempre ajuda brasileiro numa situação dessa.
Longos
meses tentando conseguir um emprego, fazendo várias entrevistas e estudando
mais inglês.
Visita
ao Brasil foi boa para sabermos que daqui em diante sempre será corrido. Acabei
fazendo muitas comparações desnecessárias.
Lugares,
contas para pagar, comidas, distância fazem parte da adaptação.
Ano
II: ESTABELECIMENTO PROFISSIONAL
Emprego
novo na minha área de conforto. Ótima oportunidade para desenvolver e botar pra
quebrar.
Vários
planos para estudar, aprender, crescer.
Amizades
vão mudando aos poucos.
Crescimento
pessoal. Aprendi que sou responsável pelas decisões que tomo.
Mudança
novamente. Agora para a casa própria.
Conhecemos
a famosa “mortgage” (financiamento imobiliário) e com ela novas contas para
pagar.
É
bom viajar e é bom gastar, mas já não tem muita coisa com que gastar. Sinal de
que a mentalidade começa a mudar.
Já
temos alguns lugares favoritos para ir, restaurantes, tipo de comida.
Ano
III: GRAVIDEZ
Todo
foco na gravidez. Mês a mês.
Muita
coisa para aprender e aos poucos meu lado “pai” vai sendo moldado. De repente
ele sempre esteve comigo.
Coincidentemente
havia mais 2 grávidas na família e a gente acompanha a evolução a distância.
Primeiro
vem o João Victor, depois a Mariana e então chega o momento da Amanda. Parto
normal.
Toda
a prioridade muda. Carreira, novos cursos, video game, Blog, Krav Maga,
viagens, etc. ficam em segundo, terceiro planos.
Sinto
financeiramente abalado com as contas que tem pela frente. Day Care em Downtown
é concorrido e caro. Mortgage, contas da casa. Preciso de um aumento.
A
empresa é comprada por outra empresa e sinto o momento de instabilidade. Hora
de procurar outro lugar. Tenho uma filha para criar.
A
oportunidade não demora muito a aparecer. Vou bem na entrevista e decido mudar
de indústria. Mesma área, mais ou menos as mesmas responsabilidades. Salário
melhor apesar de não ser Full Time. Encaro.
Havia
chances de ser efetivado em 2 anos e daí “mamar” no governo.
Ano
IV: REORGANIZANDO A VIDA
Engano
meu.
Empresa
pública não é para mim. Projetos sem prazo e sem preocupação com gastos me
incomodam.
Tentei.
Engoli muitos sapos.
Descobri
que o estilo de liderança é muito significativo para minha produtividade.
Em
casa tinha a alegria de re-encontrar minha filha e ao mesmo tempo toda a
responsabilidade por trás.
Sentia
que algo não ia bem comigo, com minha cabeça. Meu ânimo já tinha sumido.
Tinha
saudades da família e amigos. Queria poder conversar.
Comecei
a fazer terapia.
Foi
ótimo. Entendi um pouco mais de mim mesmo.
Estava
caminhando para a “perda do eu”. Precisava parar um pouco e de certa forma ser
mais egoísta.
Precisava
mesmo era mudar de emprego. Produzir.
Demorou,
mas apareceu a oportunidade no final do ano. Bem quando meu contrato de 1 ano
tinha sido renovado.
O
final do ano foi um dos mais complicados. Amanda doente com um vírus RSV,
internada por 10 dias. Muito muito frio.
Chorei
quando precisou colocar soro na veia. Alguns dias fiquei como um zumbi,
acordando de madrugada para acompanhar a enfermeira. Media o nível de oxigênio
dia e noite.
Mudei
meu conceito sobre o sistema de saúde por aqui. Você pode ter de esperar
atendimento por horas e até mesmo ficar doente enquanto espera, mas nunca,
nunca há negligência por falta de informação ou atendimento correto. Claro,
algumas coisas ainda são questionáveis.
Ano
V: CHECKPOINT
Novo
emprego finalmente. De volta ao setor bancário.
Mais
trabalho pela frente, salário menor, mais feliz.
O
estilo de liderança faz muita diferença.
Altos
e baixos na família.
Amanda
melhor e crescendo rápido.
Ainda
tudo gira em torno dela. Agora é escola. Ela se destaca. As professoras acham
que ela é muito inteligente. Fico orgulhoso.
Ainda
faço poucas coisas para mim. Voltei a pensar no meu projeto pessoal. Isso me
deu um impulso para querer aprender mais e fazer acontecer.
Hora
de começar a pensar no futuro da Amanda. Mudar de casa por conta de melhores
escolas? Talvez.
Sinto-me
em casa no Canadá.
Muito
mais confortável com a língua, costumes, hábitos. Sei que mudei o modo de agir,
pensar, ser. Acho que a vida é mais simples e com mais qualidade. Gasto melhor
e me preocupo com coisas diferentes.
O
clima é uma pequena preocupação.
Sinto
que há mais opções de lazer acessíveis a todos. Mesmo no frio.
Se
no primeiro ano começamos a sonhar em inglês, hoje eu digo que consigo até dar
risada em inglês.
Não
acredito em generalizações. Não há esteriótipos de brasileiros e de canadenses.
Algumas
pessoas me pedem dicas. Não consigo dar muitas não. Há diferentes caminhos em
um único lugar. Cada um acaba traçando o seu.
Daqui
pra frente eu não sei. Minha zona de conforto também é aqui.