terça-feira, 21 de janeiro de 2020

10 anos de Canadá




Eu tinha 33 anos quando cheguei aqui no Canadá há 10 anos. Ainda me lembro muito bem dos preparativos, da viagem (“só de ida”), da chegada ao aeroporto, do caminho até Downtown. Era uma 6ª feira e havia bastante neve acumulada nas ruas. Lembro que pensei “essa será a nova vida”. Acho que eu queria um recomeço, um novo desafio, estar fora da minha zona de conforto. Eu não queria e nunca quis provar nada a ninguém, talvez um pouco a mim mesmo.


Agora quando olho para trás, eu não vejo com a mesma clareza o caminho que percorri. Ok, talvez seja a idade e minha vista já não é mais a mesma. Vamos confiar na memória (que também não anda lá essas coisas) e listar algumas coisinhas nesse post de celebração. Celebração de 1 década de Canadá!

Rotina
Quando cheguei, eu quis criar uma nova rotina e quebrar o pensamento que eu estava aqui a passeio. Fiz o teste de inglês e fui fazer a matrícula na escola de inglês para imigrantes. Comprei um celular Pós-pago no plano de 3 anos com a Rogers. Era um iPhone 3GS.
Hoje eu trabalho durante a semana (e algumas vezes no final de semana), conto os dias para o final de semana, tento me divertir. Cuido da Amanda quando ela está comigo. Tento me exercitar também.

Lugar para morar
Nesses 10 anos morei em 4 lugares. Começando num quarto de apartamento, para um apartamento de 1 dormitório, para um apartamento de 2 dormitórios e então para um outro apartamento de 2 dormitórios. Muito possivelmente não estarei morando nesse mesmo lugar quando completar meus 20 anos de Canadá.

Comida
No começo, eu queria experimentar de tudo... diferentes pratos, salgados e doces. Sempre achei barato quando comparado a São Paulo. Antes eu sentia falta da comida brasileira e aos poucos fui me adaptando. Hoje não como tanta carne assim. Hoje eu acho os doces brasileiros mais doces que os daqui.
Lembro no primeiro ano eu tentei comer comida indiana perto do serviço e passei mal por achar muito apimentado. Um dia resolvi mudar minha tolerância a pimenta e aos poucos fui aceitando pratos mais apimentados. Recentemente, eu voltei ao mesmo restaurante indiano e achei um pouco apimentado ainda, porém só transpirei.
Quem me conhece sabe que curto cozinhar. No dia-a-dia cozinho coisas simples. Muitas vezes faço biscoitos, alfajores ou até mesmo bolo e até que o pessoal aqui curte.

Saúde
No Brasil, eu ia várias vezes a médicos e especialistas.. geralmente por causa da minha dor nas costas. As hérnias continuam aqui, mas agora estou mais acomodado (ou irresponsável talvez?) e gerencio a dor tomando remédios. Confesso que nessa primeira década eu não fui muito saudável. Há 4 anos eu comecei a me exercitar mais, comecei a correr e tive de parar por conta de uma lesão no pé. Quero voltar.
Ultimamente a única coisa que me mantém ativo é praticar Krav-Magá. Já faz alguns anos e hoje sou um dos mais experientes da escola. Se tudo der certo viro faixa preta ainda esse ano.

Emprego
Vou aproveitar e comentar sobre o aprendizado da língua inglesa aqui também, pois comunicação é uma grande fração de estar empregado.
Logo quando cheguei eu passei por vários apertos. Por exemplo, quando fui comprar um café no Tim Hortons e não consegui entender que a atendente falava... e na época eu só respondi “yes, coffee”.
A dificuldade com a língua me colocou em desvantagem na busca de emprego. Eu sentia que tinha experiência, porém não conseguia passar da entrevista. Aos poucos isso foi mudando e hoje estou mais confortável.
Trabalhei em vários lugares.. não foi fácil reconquistar a credibilidade, mostrar resultados, competir com outras pessoas. Dei uns passos atrás na minha carreira e aos poucos fui buscando meu espaço. Hoje sou menos ambicioso.

Vida
Sim, ainda sinto mais segurança, mais qualidade de vida, mais simplicidade, menos stress e menos preconceitos bobos.
Várias coisas aconteceram nesses 10 anos... a mais importante de todas é que me tornei pai. Eu queria ser pai e tenho confiança de que me tornei um bom pai. Amanda nasceu e cresce a cada dia. Ela é meu amor verdadeiro e ela me ajuda a ter amor próprio também.
Separei, divorciei, a vida segue. Tudo bem. Todos merecemos ser felizes.
Conheci outras meninas, eu me decepcionei, eu talvez as tenha decepcionado. Recentemente conheci outra menina e estamos juntos, aprendendo, crescendo, evoluindo a relação. Não sou mais jovem, porém mais maduro.
Descobri o amor por um animal de estimação. É estranho, porém a relação de dependência me faz pensar um pouco no meu papel aqui nesse planeta.
Tem gente que acha que tenho vários amigos, mas não tenho não.
Passei por depressão, por introspecção, por re-estruturação. Gosto da minha versão atual, mas quero melhorar. Sinto que melhorei quanto pessoa.
Vi entes queridos partirem e sei que ainda verei mais alguns nos próximos 10 anos. Nunca estamos preparados.

Cápsula do Tempo para o meu Eu futuro, para a Amanda no futuro
Old man, esses 10 anos foram interessantes. Muito aprendizado, muita adaptação, crescimento e oportunidade de ver seu país com outros olhos. Queria saber se você está bem...
Filha, obrigado. Você é uma pessoa boa, inteligente e super bonita. Outro dia você pediu para escrever uma carta de agradecimento para o Papai Noel. Você quer ser médica e cuidar de mim. Desejo que seus sonhos se realizem.

Espera lá.. também quero saber se na próxima década o Brasil vai ganhar mais uma copa do mundo, pois essa última década foi complicada hein?!

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

9 anos se passaram..





Há muito tempo estava eu participando de uma conversa meio filosófica (daquelas que acontecem por acaso) sobre memória. Eu particularmente acho que tenho uma boa memória para a maioria das coisas, porém sou péssimo em lembrar filmes, nomes de atores ou atrizes, etc. Bom, a discussão virou uma pergunta simples: qual a memória mais distante que você guarda da infância?

O fato é que depois eu fui dar uma pesquisada e parece que a grande maioria de nós não lembra eventos anteriores aos 3 anos de idade, porém existe uma curva de esquecimento. Por volta dos 9 anos de idade, nós lembramos apenas 40% ou menos dos eventos que aconteceram quando tínhamos 3... e isso só vai piorando ladeira abaixo. Como estou mais velho, confesso que tenho apenas flash de memórias dessa idade. Ah.. quanta chinelada! Hahahhahah

No dia 22 de Janeiro de 2019 completarei 9 anos aqui no Canadá. Nunca deixo passar em branco! Daí que hoje eu sentei na frente do computador para escrever um baita post destacando as coisas que aconteceram nessa jornada.. e batata! Deu branco! Como é que fica essa estatística quando se nasce grande em um outro lugar?

Morei em 4 lugares diferentes. Trabalhei em 5 lugares contando o co-op. Dei alguns passos para trás na carreira e recuperei. Fui PJ. Engordei, emagreci, engordei, engordei, emagreci, etc. Tive um animal de estimação (ah, que saudades da Gia..). Virei pai (e adorei por sinal). Fui ver baseball, basketball, football, lacrosse, hockey. Virei canadense. Vi 3 Copas do Mundo. Vi os Jogos Panamericanos. Senti um terremoto. Estou no meu décimo inverno. Mudei minha tolerância a pimenta. Experimentei diferentes pratos culinários. Viajei para alguns lugares inclusive o Brasil. Ganhei fluência no inglês. Diminuí o ritmo de trabalho e aumentei a qualidade de vida. Tive carro e hoje não tenho. Tive altos e baixos. Divorciei. Mudei a aparência. Aprendi várias coisas.

Se me arrependo? Não.

Se sinto saudades da família e amigos? Sim, sempre.

Se volto ao Brasil de vez? Provavelmente não.

Se fico aqui para sempre? Não sei.

Há 9 anos eu não conseguia pedir um café no Tim Hortons e hoje em dia faço apresentações em frente a vários executivos do Banco. Sempre com humildade. Se não sei, dou um sorriso, peço desculpas. Erro, corrijo, acerto e assim vai.

Mudança é assim: ou você muda ou você dança.



quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Vazio


Não sei como começar esse post..

No final de 2010 conheci a Gia. Ela estava num Pet Shop toda calma, preguiçosa. Abri o cercadinho dela, ela se espreguiçou e saiu calmamente até se esfregar na minha mão. Bingo! Essa era a gata que eu queria!

A primeira noite foi tudo novidade. Fechamos a porta do quarto primeiro. Ela saiu do carrier e se escondeu debaixo da cama, com medo. Depois aos poucos saiu para explorar o novo ambiente. Fiz carinho e ela começou a ronronar muito excitadamente. Fiquei preocupado.. achei que ela teria um troço.

Talvez no terceiro dia abrimos a porta do quarto e lá foi ela explorar a sala, banheiro, cozinha e achou o canto favorito, em cima do puff perto da janela.

Ela nunca miou alto. Ela sempre foi muito sociável e gostava de brincar. Lembro quando ela ficava meio escondida esperando eu passar para então "atacar" minha perna. Daí eu saía correndo atrás dela e depois ela fazia de novo.

Ela nunca curtiu muito sair do apartamento. Ficava estressada, com medo.

Lembro a primeira vez que dei catnip e ela ficou maluquinha. Fiquei com medo de fazer mal e evitei.

No ano em que a Amanda nasceu e já estávamos em outro apartamento, a Gia ficou doente. Ela apresentava dores para urinar e saía sangue. Dava dó só de olhar e um pouco de raiva, pois tinha de lavar roupa de cama, capa de sofá algumas vezes por semana, ou até mesmo por dia. Depois de muito vaivém no veterinário, finalmente tivemos uma guia para fazer uma ultrassonografia e daí foram constatados cristais na bexiga. Mudamos a alimentação com uma ração com menos sal e daí ela melhorou.

Amanda e a Gia ficavam sempre muito próximas. Não parecia ciúmes, mas sim coisa de irmã mais velha. Era interessante ver.

Após a separação a Gia se tornou minha grande companheira. Ela seguia minha rotina. Ela ia para a cama e ficava comigo, eu acordava e ela me seguia até o banheiro, eu voltava para casa e ela vinha me receber na porta. Eu conversava com ela.

Acho que o lugar que ela mais gostava era o sofá. Eu sentava e lá vinha ela se encostar. Era batata!

Na última 3a feira de manhã, antes de sair de casa para levar a Amanda na escola eu notei algo estranho. Ela ficou na dela, nem me seguiu até o banheiro, nem foi para o sofá. Até comentei com a Amanda que achava que a Gia estava doente ou meio triste.

Naquele dia eu voltei para a casa e ela não veio me receber na porta. Comecei a ficar preocupado. Fui ver aonde ela estava e a encontrei parada perto da cama com cara de cansada. Conversei com ela perguntando se estava tudo bem.

Coloquei o patê e esperei que ela viesse comer como era de costume. Ela não veio. Aí fiquei bem preocupado. Fui ao sofá e daí ela veio, passou perto de mim. Senti um cheiro bem ruim e pensei que ela estava meio cabisbaixa por ter algum cocô grudado no pelo dela (isso já tinha acontecido antes..), mas não encontrei.

Daí começou o pesadelo..

Depois de procurar o cocô eu acabei encontrando uma ferida na barriga dela. Até pensei que fosse algum bicho que tivesse picado e ela foi lá e lambeu. Estava com pus.

Resolvi dar um banho para limpar a ferida. Enchi a banheira, peguei a Gia e coloquei na água. Ela não pulou como era de se esperar. Acho que naquele momento ela já estava sem forças. Lavei a região e vi que era na verdade uma bola e uma ferida. Ela estava nervosa... e acabou fazendo xixi na banheira. Sequei calmamente e ela deixou. Percebi que ela estava com muito medo de tudo.

Ela saiu do banheiro e ficou deitada no chão. Deitei junto e fiquei conversando com ela e fazendo carinho. Acho que ela se acalmou.

Depois disso ela ficou quietinha no quarto, na cama da Amanda. Eu levei o patê e água para ela. Ela comeu um pouco do patê. Nessa hora eu já estava preocupado e pensando mil coisas. Decidi procurar um veterinário 24 horas. Fui no Google, liguei para 2 clínicas e elas não estava atendendo emergências. Pesquisei rapidamente sobre a ferida..

O veterinário dela abria às 8h da manhã e acabei decidindo deixar para o dia seguinte. Fui dormir e ela não foi para a minha cama... já sem forças. Eu deveria ter pego ela e dormido junto.. deveria ter dado companhia...

Na manhã seguinte liguei e pedi um encaixe de emergência. Queria uma análise, alguma direção. Consegui uma consulta às 9h10... 4a feira, dia 28 de Novembro.
Ela entrou no carrier sem problemas. O cheiro estava forte novamente...
Pegamos um Uber e lá chegamos.
Assim que entramos na sala, a Gia começou a tremer... ela nunca gostou de ir ao veterinário. Levaram ela para dentro para acalmá-la, ver o batimento cardíaco, ver a respiração. Esperei...

Depois de um tempo a veterinária me chama na sala:

- Olha, ela está muito nervosa e com dificuldades para respirar. Colocamos no oxigênio e conseguimos ver a ferida.. Infelizmente pode ser um tumor. Na maioria dos casos não é benigno, mas quero tirar umas radiografias para ver se é apenas local
- Puxa... eu não tinha percebido
- Às vezes é muito rápido.. e não dá para perceber, pois os gatos não dão indícios.. somente quando mudam de comportamento
- E quais são os próximos passos?
- Quero tirar uma radiografia local e ver se atingiu os pulmões. Vamos ver se ela se acalma primeiro... dei um sedativo e deve fazer efeito em breve. Você pode ir para casa ou trabalhar e a gente liga quando houver mais resultados

Voltei para o trabalho... triste, mas até que otimista. O telefone toca cerca de 1h depois... e falo que chego lá em 30min.

Umas 11h45 entro na sala, mais resultados:

- Finalmente conseguimos tirar as radiografias. Ela estava muito agitada, mas fizemos rápido. Não tenho boas notícias... infelizmente. Deixa eu te mostrar...

Nem sei o que pensei..

- Aqui está o tumor e essa área aqui deveria estar claro o pulmão, mas não está. Há muito líquido e essas manchas brancas no pulmão indicam que o tumor espalhou.. O coração também não está dando para ver direito. Você chegou a perceber algo na respiração dela?
- Não, nunca a vi puxando o ar... minha filha tem asma e sei como é o esforço de puxar o ar para dentro
- A Gia está com muita dificuldade para respirar... está no oxigênio
- E o que podemos fazer..?
- Infelizmente não tenho boas notícias... desculpe. Do jeito que ela está, pode durar mais 1 ou 2 dias... ou se tirarmos o líquido do pulmão para ajudar na respiração pode durar mais 1 ou 2 semanas, mas precisaria fazer esse procedimento várias vezes... a cirurgia nesse caso não é recomendada... então infelizmente minha recomendação para que ela não sofra é colocar para dormir
- Como assim? O que isso significa?
- Que a gente dá um sedativo como anestesia, ela dorme.. e a gente dá outra injeção para parar o coração. Desculpe...  sei que é muita informação

Nessa hora eu quase chorei, mas muita coisa veio a minha cabeça... comecei a falar coisas meio sem sentido..

- Eu deveria ter percebido antes...
- Você não tem culpa, como eu disse, muitas vezes não dá para perceber.. e você percebeu alteração no comportamento dela
- Sim, mas de repente ela estava tentando me dizer antes... não sei..
- Sei que é muita informação.. vou deixá-lo na sala sozinho para pensar nas alternativas, dar telefonemas... o tempo que precisar e depois você me chama..

Liguei para a Claudia. Falei da situação... e disse que ia optar pela eutanásia.. para que ela não sofresse mais, muito menos em casa sem ter o que fazer. Perguntei se ela queria se despedir.. se de repente a Amanda iria querer se despedir. Ela disse que não daria para ir pegar a Amanda e levar ao veterinário. Foi tudo muito rápido... decidi ir buscar a Amanda e deixá-la se despedir. Cresceram juntas... e para mim iria doer mais ouvir "mas eu queria ver a Gia..."

Chamei a médica. Falei que não esperava ter de tomar aquela decisão assim.. tão rápido, mas que concordava que achava melhor não deixá-la sofrer. Falei que queria trazer a Amanda e ia demorar 1 hora mais ou menos. Ela perguntou se eu queria ver a Gia... e fui vê-la... cena triste. Ela me viu, mas não parecia ter forças.. e não se levantou.

Fui para a escola, ela veio me encontrar na secretaria meio surpresa. Expliquei rapidamente que a Gia estava muito doente e estava no veterinário.. e que precisava virar estrelinha, pois estava sofrendo. Muitas dúvidas vieram na cabeça da Amanda, mas somente as lágrimas saíram... de muita tristeza. Abracei, chorei.. tentei explicar da melhor forma possível.. disse que meu coração também estava em profunda tristeza e que eu tinha tentado buscar explicações. Disse que me sentia culpado... e a Amanda disse "mas você não sabia papi..."

Foi uma corrida de Uber silenciosa, alternada com choro.. tentando buscar forças.

Entramos na sala. Uma assistente explicou o procedimento, assinei uns termos, ela apresentou uma brochura sobre o cemitério, lembranças, etc... tudo coisa que eu não queria ter de escolher, discutir, pensar..

A médica trouxe a Gia... nitidamente enfraquecida, respirando com dificuldade. Não dava para acreditar... Falei para a Amanda que queria tirar uma foto para recordar que sempre estivemos ao lado dela, mas que queria que não fosse triste.. queria tentar buscar na memória os momentos felizes... não deu, choramos.

Peguei a Gia no colo, mostrei o machucado para a Amanda. Dei um abraço na Gia, conversei com ela... fiz muito carinho. Ela estava calma. Amanda estava chorando...
Chamei a médica e disse que estávamos prontos para despedir... não ficamos mais na sala. A médica esboçou um choro ao ver nós dois abalados. Falamos tchau para a Gia.. ela se virou.. deitou de costas para nós. Foi melhor assim.
Paguei as despesas... a secretária chorou ao ver a cara de triste da Amanda...

Pegamos um Uber para casa... não conseguíamos acreditar. Amanda chorava, passava.. e chorava de novo. Eu também. Ficamos em silêncio... depois sugeri tentarmos fazer alguma coisinha que talvez nos fizesse feliz... um sorvete de repente.

Amanda foi para a Claudia naquela noite..

Eu chorei ainda mais.. me culpei, de certa forma arrependi... tentei buscar um lado racional na decisão.

E há uma semana a Gia se foi... a casa ficou vazia

Se não percebi antes, peço desculpas. Vou carregar a culpa para sempre.
Tento pensar que o amor liberta e não sei se conseguiria viver com o sentimento de egoísta se eu a trouxesse de volta para a casa ela morresse com dor em 1 ou 2 dias... sem tempo de levá-la novamente ao veterinário..

Com tristeza e com amor..

Robinson



sábado, 13 de outubro de 2018

Vamos falar de futebol?

Meu pai tem afeição ao Corinthians, mas nunca foi um fanático torcedor. Por essa inclinação, lembro que eu tinha um uniforme do Corinthians e quando assistia aos jogos pela TV, eu ficava admirado em ver o Sócrates dando aqueles passes de calcanhar e deixando os adversários perdidos. Futebol bonito de se ver!

Mas na escola era assim... sempre perguntavam:
- Ei, para que time você torce?
- Brasil
- Brasil não é time, é seleção
- Ué, mas seleção é um time
- Sim, mas estou falando de Corinthians, Palmeiras, entende..?
- Ah tá.. então não sei, nenhum
- Mas você precisa torcer para algum time
- Mas eu não torço
- Ah, deixa prá lá então

Cresci assim, sem time. E mesmo não tendo um time, eu gostava de assistir aos jogos... Copa do Mundo então, eu era e ainda sou muito empolgado. Sei que parece tarefa difícil para muitos acreditar que eu vejo o jogo com olhar imparcial e quando digo "foi um jogo bom de se ver, jogaram bem, time A merecia aquele gol hein?" sempre me olharam estranho e já puxavam a conversa para um lado ou de outro.

Para mim, essas discussões que viram brigas são ruídos. Já assisti a muitos clássicos em casa de amigos e é mais ou menos assim o cenário: (imagine um clássico Corinthians e Palmeiras numa final rolando na TV, os times empenhados e jogo acirrado)
- Pô, lá vai o Corinthians roubar de novo!
- Falou quem não tem Mundial
- Esse seu time não fez nada durante o campeonato inteiro
- O seu técnico saiu na TV para ofender a mãe do jogador do meu time, você acha certo isso?
- Não é, mas você viu o que o cara falou antes?
- Não importa, seu time não tem Mundial
- Ah, vá se f*, o seu não tem estádio e sempre joga com o juiz

- A gente ganha na raça, no futebol
- E aquele jogo da Libertadores que vocês perderam hein?
- Aqui é Corinthians na vitória ou derrota

E assim vai..
Enquanto eu só prestando atenção no jogo e esperando o gol. Pensando em quem vai representar o Brasil na Libertadores ou qual jogador estaria na Seleção. Para mim seria simples, os melhores vão para a Seleção e vai misturar Corinthians e Palmeiras ué.. por que não?

Tem muita gente que não gosta de perder e falta até no trabalho após a derrota do time. O problema é quando o medo encontra o ódio.. ah, meu amigo... o ódio cega. O ódio irrita a vista, os ouvidos, dói na alma. Ver o adversário usando a camisa do "inimigo" então... é pedir para apanhar!

E ao meu ver... essas pessoas estão defendendo quem mesmo? O clube?
E esse medo é do quê? De não pertencer? De ter de aceitar o outro?
Não entendo.

Acho que torcer é saudável, impulsiona o seu time. Extremos não são.
Torcer de forma saudável ajuda a abrir os olhos para o outro lado e falar "caramba, queria aquele jogador do outro time na minha equipe".

Olha só.. esse ano foi ano de Copa.
Acho o Neymar um jogador com qualidades e técnica excepcionais. Acho ele um garoto mimado e vi muitas vezes ele jogando sujo... não curto, não me representa. Gosto de vê-lo em campo jogando futebol limpo e bonito, mas se ele foge as regras, quero que seja punido e que seja responsável sobre o impacto que isso vai trazer para toda a equipe (dentro e fora de campo).

Quero ver o Brasil ser campeão novamente e independente se um jogador vem do PSG ou do Barça ou do Corinthians ou do Palmeiras.

Pra frente Brasil!

Assinado

Um Brasileiro




quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

2018 será um ano ímpar!


Sobre 2017...

Que seja pelo fato de que a cada 7 anos nossa mente e corpo mudam ou pelo fato de que a vida começa aos 40, só sei que em 2017 (7 anos da minha vida aqui no Canadá) muitas coisas aconteceram.

Na vida profissional, apesar de não ter recebido a promoção que esperava, posso dizer que ganhei mais responsabilidade, ganhei mais respeito, influenciei mais pessoas, tomei mais decisões, mudei de escritório e ganhei um lugar ao lado da janela (faz uma certa diferença para mim), implantei soluções no país inteiro, trabalhei em estratégia, trabalhei em treinamento, amadureci.

Viajei menos do que eu gostaria, mas conheci lugares diferentes e incríveis. Comecei o Ano no Brasil, conheci Blue Mountain, fui pela segunda vez a San Francisco e vi uma cidade por um outro ângulo. Saí correndo pela cidade...

Por falar em corrida, esse ano corri 4 corridas de 10 km, 1 meia-maratona (21.1 km) e 1 corrida de 5 km. Corri bastante na rua. Conheci um pedaço da Belt line e me perdi algumas vezes no cemitério. Corri pela manhã, pela tarde, pela noite. Tive algumas lesões nos joelhos, no tendão de aquiles, nas costas... O corpo pediu para parar e assim foi por um bom tempo. Perdi 3 exames de faixa no Krav Magá e isso me deixou frustrado. Voltei aos poucos... mudei a forma de correr, fiz fisioterapia e voltei às corridas e ao treino de Krav. Depois de muito esforço eu consegui voltar ao meu tempo na corrida e consegui avançar de faixa.. e encostar no nível Avançado.

Talvez tenha perdido um pouco de peso e ganhado um pouco de massa muscular.. Eu me alimentei melhor, comi menos KFC, menos fritura.

Conheci meninas e não deu muito certo não. Aprendi que ser solteiro não é ser sozinho. Aproveitei o meu tempo sozinho para me re-inventar. Fiz uma auto-análise, listei as coisas no meu Ikigai. Mudei uma coisa aqui, outra ali e aos poucos fui chegando na versão 2.0. Já era hora de atualizar o firmware.

Dirigi menos, abandonei o carro. Andei mais a pé, de carro alugado de vez em quando e de uber. Devo ter bebido mais do que nos últimos anos e descobri que tudo bem beber para socializar assim como tudo bem falar não, por não curtir bebida.

Passei muito tempo com a Amanda, muito tempo mesmo. Fizemos coisas muito enriquecedoras e espero que tenha construído boas memórias. Viajamos juntos, fomos ao teatro, ao cinema, ao Medieval Times, ao Aquário, ao Ontario Science Centre, a Legoland, a parques, a piscina, a festas. Passamos bons tempos em casa também brincando de Robot Turtles, quebra-cabeça, Play-Doh, artes, desenhos, palavras, música, violão, TV, fazendo cookies, lendo livros, brincando na banheira, brincando na cama, etc.

Fiz novos amigos, demos risadas. Recebi amigos em casa, cozinhei para eles. Foi bom.

Vi pessoas próximas partirem..

Acho que fiz o bem, fui uma boa pessoa, um bom cidadão. Acho que fui honesto e justo com todos e comigo. Eu me senti mal das vezes em que “briguei” com a Amanda, mas sei que fiz isso pelo tanto que eu a amo. Quem ama educa, não é mesmo?

Sinto que 2018 será melhor. Sempre digo que o ano seguinte será um ano ímpar... e assim será.

domingo, 19 de novembro de 2017

8 dias em San Francisco com a Amanda

Essa foi a segunda vez que fui a San Francisco. A primeira vez foi em 2011 e fiquei apenas uns 4 dias. Dessa vez fui com a Amanda que está com 5 anos e ficamos 8 dias.

Vou tentar descrever o plano e uma espécie de diário..

Como eu tenho apenas 15 dias úteis de férias por ano, resolvi aproveitar essa oportunidade de combinar o feriado de Remembrance Day da 2a feira dia 13 de Novembro e o dia "off" do meu aniversário na 6a feira dia 17 de Novembro. Sendo assim, eu só usei 3 dias de férias e aproveitei basicamente 9 dias.

Pesquisei hotéis e AirBNB. AirBNB compensava mais financeiramente, porém em lugares um pouco mais afastados de Downtown. Comecei a procurar hotéis com piscina, pois imaginei que a Amanda iria curtir mais a piscina do hotel que ficar batendo perna subindo e descendo morros em SF.

Escolhi o Da Vinci Villa que fica na 2550 Van Ness Ave. Bem localizado e perto da Ghirardelli. Além disso, o café da manhã estava incluso... o que ajudou muito na logística logo pela manhã...

Tenho uma amiga que mora em SF e primeiramente verifiquei se haveria algum dia em que poderíamos nos encontrar. Pedi antecipadamente a agenda dela e infelizmente ela não poderia tirar um dia de folga durante a semana, ou seja, o encontro precisava ser no final de semana.

Daí comecei a pesquisar lugares para ir e comprei os tickets online. A dica é procurar por eventos acontecendo na época, feriados, shows, além de tradicionais lugares turísticos. Dessa vez não pensei em alugar um carro para ir para outros lugares mais distantes. Acredito que a Amanda não liga muito ainda e para ela o que importa é não cansar muito...

Esse foi o plano:

Day 1: 10 de Novembro (6a feira)
- Combinei com o meu chefe que eu iria trabalhar "light" de casa, respondendo emails e tal, porém terminando de arrumar as malas.
- Lavei as roupas da semana.
- Fui comprar snacks para a viagem e coisinhas que faltavam.
- Fui buscar a Amanda na escola na hora do almoço.
- Combinei com um amigo de amigo para nos levar ao aeroporto.
O vôo atrasou mais de uma hora para sair, pois o piloto informou que devido a fortes ventos a rota teve de ser alterada.. e precisava abastecer..
Chegamos no hotel tarde e cansados e mesmo assim pedimos comida... ou seja, fomos dormir bem tarde.

Link do Hotel:
http://www.davincivilla.com/?gclid=CjwKCAiA9MTQBRAREiwAzmytw74owRK2TTG_fctIiprLadC19wTweD0vN2timBXgJXQLixoNWaFAQhoCm9cQAvD_BwE

Day 2: 11 de Novembro (Memorial Day, Remembrance Day)
- Acordamos cedo (6h30).. e isso ajudou a entrarmos no novo fuso horário rapidamente
- Tomamos café e esperamos minha amiga chegar. Estava combinado às 11h... porém ela atrasou um pouco. Infelizmente isso atrapalhou um pouco, pois a Amanda geralmente almoça umas 11h30
- Fomos no estádio do Giants no AT&T Park para um evento chamado Discovery Day. Eu tinha pesquisado antes e o ingresso era gratuito.
- Ficamos algumas horas lá, fomos na lojinha do Giants e depois fomos para a Ghirardelli tomar sorvete.... já no final do dia.

- Voltamos para o hotel... e ainda fomos para a piscina.. uhu!

Day 3: 12 de Novembro
- Após o café da manhã, ficamos um pouco no hotel descansando... até umas 10h..
- Fomos até o City Hall e andamos lá por perto. Fomos no Walgreens para comprarmos snacks.
- Almoçamos num lugar muito bacana chamado Ananda Fuara: https://www.google.ca/maps/place/Ananda+Fuara/@37.7785786,-122.4151576,18.5z/data=!4m5!3m4!1s0x8085809c781ca689:0x40f9fed0d13b208f!8m2!3d37.7778987!4d-122.4162655?hl=en
- Encontramos minha amiga novamente para vermos Aladdin no SHN Orpheum Theatre
- O centro de SF não é muito bonito..
- A peça durou 2h e meia.. e a Amanda estava cansada, mas mesmo assim a convenci de irmos ver a Golden Gate...
- Foi um passeio bem rápido. Eu já havia atravessado a ponte de bicicleta e passeado do outro lado... que é bem bacana... porém a Amanda não se empolgou muito em atravessar.
- De lá voltamos para o hotel, porém não fomos na piscina, pois estava bem frio... Amanda estava bem cansada e manhosa...


Day 4: 13 de Novembro
- Saímos logo depois do café da manhã para irmos ao Pier 33. Precisávamos estar lá umas 9h para pegarmos a balsa para Alcatraz.
- Amanda estava bem empolgada com o que eu tinha dito para ela... e eu já tinha comprado os tickets online.
- Foi um passeio bem interessante, porém a Amanda ficou cansada de tanto andar. Acho que ficamos lá quase 3 horas. O almoço foi num restaurante perto do Pier e comemos Fish & Chips..
- Depois começou a chover e voltamos para o hotel.
- Brincamos de travesseiro, pular na cama.. e depois pedimos comida.


Day 5: 14 de Novembro
- Após o café fomos ao Pier 39 para o Aquarium. Também já tinha comprado os tickets online.
- O Aquarium é bom, porém o de Toronto é maior e em minha opinião, melhor.
- Acho que ficamos 1h e meia lá dentro...
- Depois ficamos andando pelo Pier 39, vimos os Sea Lions, Amanda foi no carrossel 2x, entramos na loja de mágicas, loja de lembrancinhas...
- Convenci a Amanda a voltarmos andando para o hotel.. e subimos a Lombard St. Essa é a rua que tem um zig-zag...
- Jantamos num lugar de hamburger  perto do hotel chamado Roam Artisan Burgers muito bom: http://www.roamburgers.com/


Day 6: 15 de Novembro
 -  Após o café fomos ao Exploratorium no Pier 15. O lugar é muito bacana e tem várias coisas de ciências com as quais as crianças podem interagir.
- O Ontario Science Centre é maior e tem uma parte de corpo humano que a Amanda gosta e sentiu falta no Exploratorium.
- Saímos de lá e fomos andando de volta ao Pier 39 (é uma boa caminhada). Amanda foi no carrossel novamente...
- Paramos num lugar de lanches chamado In-N-Out que parecer ser muito popular...





Day 7: 16 de Novembro
- O plano era no museu da família Walt Disney... porém acordei com tendinite no tendão de aquiles, estava chovendo e ficamos sem ânimo de sair.. Amanda estava cansada também..
- Ficamos no hotel mesmo vendo desenho, brincando no quarto com travesseiros, descansamos...
- Depois fomos ao mercado/farmácia andando (tem um Walgreens perto do Hotel).
- No final do dia fomos para a piscina e ficamos um bom tempo lá.



Day 8: 17 de Novembro
- Não tinha planejado nada... porém tínhamos ainda tickets para o Children's Creativity Museum e para o The Walt Disney Family Museum...
- Após o café fomos direto ao Children's Creativity Museum...
- O lugar é sensacional para crianças. Lembrou o Discovery Centre daqui de Toronto que não existe mais... Basicamente há "estações" nas quais as crianças desenvolvem alguma atividade..
- Ficamos mais de 2 horas brincando de clay (massinha) fazendo bonecos e depois aprendendo a fazer um stop motion.
- Almoçamos snack e continuamos lá até umas 15h30...  Do lado de fora tem um carrossel... e a Amanda foi 2 vezes.
- Jantamos em um restaurante italiano chamado Ristorante Parma. Um lugar pequeno, porém bem aconchegante.
- Voltamos para o hotel e arrumei as malas..

Day 9: 18 de Novembro
- Após o café terminei de arrumar as malas e fizemos o check-out. Deixamos as malas no hotel e fomos bater pernas.
- Fomos ao museu da família Walt Disney. O lugar é bem interessante, porém não muito para crianças. Amanda ainda não sabe ler... e também não tem muita paciência em ficar andando e olhando... sem muita interação.
- De lá voltamos ao Pier 39... andamos por lá (e eu tinha 2 tokens para o carrossel...).
- Andamos até o Fisherman's Wharf e fomos ver o submarino e o navio de guerra.. Amanda queria ver o navio por dentro e foi uma ótima escolha. Achei bem interessante andar por dentro do navio gigantesco.
- Andamos até a Ghirardelli (uma boa caminhada também) e tomamos sorvete.
- Voltamos andando para o hotel, pegamos as malas e fomos ao aeroporto..
- O vôo saiu no horário e chegamos em Toronto no dia 19 de Novembro pela manhã...



Outras coisinhas...

- Amanda gostou da Bay Bridge que leva a Oakland. É beeeeem "ginormous".
- Perguntei se a Amanda queria andar de cable car, mas ela disse que era parecido com o streetcar de Toronto.. e não se interessou.
- O Children's Criativity Museum fica perto de Financial District. Tentamos andar por lá, porém a Amanda já estava cansada... o Yerba Buena Gardens parece bem interessante.
- O museu da família Walt Disney fica num grande parque no "Presidio" e parece ser um ótimo lugar para picnic ou caminhada. Ah, no andar de baixo do museu tem uma maquete da casa do Walt Disney com um trenzinho... muito bacana de ver.
- A alimentação não foi muito boa... acabamos tomando um café da manhã reforçado, comendo snack de almoço e jantando melhor e mais cedo... Das vezes em que pedimos comida no hotel, usamos o site https://www.grubhub.com/lets-eat e pedimos no Fresco Pizza - Shawarma (e.g. chicken shawarma que vinha com salada, arroz e frango).
- Errei um pouco nas roupas... Pensei que daria para sair de bermuda, porém perto do Pier era mais frio..
- Andamos muito de Uber, porém notei que o GPS não é muito preciso e muitas vezes tive de colocar o endereço na mão... Minha amiga também usa o Lyft, mas não experimentei.
- Nem eu nem a Amanda gostamos muito de frutos do mar... o Fisherman's Wharf parece ser o point.

E lá se foram as férias
:-D

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Milestone: 6 anos no Canadá (um brasileiro que virou canadense)



E lá se foram 6 anos! Já é mais do que o período que passei na faculdade (que eu achava não acabar nunca).

Saímos de São Paulo rumo à Toronto com a passagem de ida somente. Ainda lembro a correria para fecharmos as malas com peso distribuído entre elas, imprimir os documentos para a imigração, fechar as caixas com as coisas que deixamos para trás, conferir inúmeras vezes os passaportes e os vôos, e repetir várias vezes para mim mesmo “se não der certo, eu volto”.

O primeiro ano definitivamente foi muito difícil e sou grato por ter passado pelas dificuldades. Elas ajudaram na adaptação e me fizeram mais forte. Os anos subsequentes também não foram fáceis, porém aos poucos as peças foram se encaixando.
Hoje sou pai, brasileiro com muito orgulho e canadense. Olho para os obstáculos do passado com certo alívio e orgulho por tê-los superado. A grande barreira do idioma, a adaptação ao clima, a distância dos amigos e da família, a busca do emprego, a casa própria, etc. agora fazem parte da história e aprendizado.

Grandes decisões sempre carregam consequências.

Não abro mão das minhas raízes, da minha memória, da minha brasilidade. Falo com muito orgulho que sou brasileiro, falo com muito orgulho do meu país. Recentemente me tornei canadense e aos poucos também vou alimentando o orgulho de ser canadense. Fico feliz em poder ser os dois.

Tenho grande responsabilidade em transmitir para a minha filha Amanda os valores que me foram ensinados. Valores transcendem quaisquer barreiras geográficas.

Nesses 6 anos muita coisa mudou. Eu mudei. Acho que a desaceleração da rotina do dia-a-dia permitiu que eu fizesse um auto-conhecimento. Sinto que aos poucos fui me desapegando ao consumismo (claro que ainda compro coisas, mas em menor escala), dando mais valor ao tempo pessoal do que na carreira, valorizado minha qualidade de vida, e conhecendo meu lado emocional.

Hoje qualidade de vida significa segurança, comodidade, tempo livre, viver mais simples.

Nos últimos 3 anos a mudança foi ainda maior com a chegada da Amanda. Aprendi a ser pai. Pessoalmente acho que sou um bom pai e sinto que é o melhor de mim. Não sou perfeito e sei que erro como pai também. Enquanto os acertos são maiores que os erros, ou enquanto os erros se transformam em aprendizado, considero um sinal positivo.

Nos últimos 2 anos tive de aprender a conviver ou superar a depressão. Sim, ela veio e foram algumas batalhas. É ilógico.

A vida virou rotina. Trabalho durante a semana, tenho ótimas perspectivas na carreira, aguardo o final de semana para aproveitar o tempo com a Amanda ou passear ou fazer as tarefas de casa ou compras, às vezes preciso resolver questões de banco ou operadora de TV/Internet, às vezes conto piada em inglês mesmo, às vezes fico sem entender uma piada, às vezes preciso reclamar, procuro fazer exercícios, procuro controlar a alimentação e peso, às vezes viajo, às vezes tiro fotos, às vezes fico doente e assim por diante. Seria diferente no Brasil?

Se alguém perguntar quando eu volto para o Brasil, ainda não saberei responder.